Se você fechar esse vídeo
pornô que você deve estar assistindo e parar pra pensar um pouco a respeito do
século em que vivemos, chegará à mesma conclusão que eu atingi cinco segundos
atrás:
Vivemos
num mundo muito seguro, e isso tornou nossa existência muito monótona.
Pense comigo um pouco: cintos de segurança, backups, vacinas,
airbags, botes salva-vidas, capacetes, seguros de vida, função “Desfazer” do
Word, continues infinitos
em Mario World… Temos ao nosso dispor incontáveis mecanismos de proteção que,
ao mesmo tempo que nos dão segurança, acabam roubando todo aquele friozinho na
barriga, a sensação de perigo, o próprio gostinho de viver. Que tipo de emoção
se pode ter num mundo onde você pode comprar uma pílula de emergência minutos
após ter estourado uma camisinha?!
Alguns
indivíduos mais ousados, não conformados com essa sociedade medrosa que nos
tornamos, adotam estilos e atividades ditos “extremas”. Mal sabem eles que até
mesmo os esportes radicais foram infectados por essa covardia contemporânea:
• Em rafting, se usa colete salva-vidas;
• Skatistas usam capacete;
• A mochila do paraquedista tem um paraquedas de emergência.
• Skatistas usam capacete;
• A mochila do paraquedista tem um paraquedas de emergência.
Que
porra é essa? Se arriscar sendo cuidadoso? Isso não faz o menor sentido. Ou
você se preocupa com sua segurança, ou você pratica essas atividades. Tentar
ambos prova não apenas que você tem tanto medo como o resto das pessoas, mas
também que você tem medo de admitir esse medo, e é por isso que sai fazendo
essas maluquices – pra que ninguém saiba que você é um puta dum cagão.
Tá,
tudo bem, talvez essa cultura de auto-preservação tenha salvo algumas centenas
de milhares de mortes trágicas, dolorosas e prematuras. Mas gente, e a
adrenalina? E o senso de aventura?! Milhões de mortes por ano me parece um
preço justo a se pagar por um friozinho na barriga de vez em quando.
Não chorem ainda. Essa situação pode ser revertida. Basta seguir
meu simples Manual de Aventuras Domésticas,
que pode ser praticado por qualquer pessoa, em qualquer idade, sem necessidade
de esperar meia hora após ter tido uma refeição.
1) Fazer pipoca
sem a tampa
Imagine
a cena: é um sábado à tarde, e há um filme na TV a cabo que por algum milagre
não é uma merda repulsiva como os filmes de sábado à tarde geralmente são. Todo
serelepe, você decide que a experiência cinematográfica não pode ser completa
sem uma bacia fumegante de pipoca quentinha no seu colo, recém saída da
pipoqueira. Você vai à cozinha, simultaneamente coçando o ovo esquerdo – não
porque estava coçando, você coçou de graça mesmo – e joga os grãos de milho na
panelona. Aí, de MEDROSO DE MERDA QUE VOCÊ É,
você põe a tampa em cima de tudo, senta ao lado do fogão e começa a morder uma
unha do pé pra passar o tempo.
Aí que
está o seu erro. Você acabou de sepultar toda a adrenalina que a confecção de
uma rodada de pipoca envolve. Já pensou? Um grão pode ou não voar por uma
brecha entre a panela e a tampa, quando você a levanta pra ver se tá tudo no
ponto, e pode ou não acertar você no meio do olho! Praticamente uma roleta
russa culinária.
Os
praticantes mais extremos desse esporte não apenas jogam fora a tampa, mas
comumente mantém o rosto centímetros acima da panela, só pra ver se conseguem
tirá-lo na hora H. Como em outras técnicas que envolvem tirar uma parte do
corpo na hora H, não preciso dizer que isso nem sempre dá os resultados
esperados.
Mas ao
menos você não será um covarde de merda.
2) Preencha cruzadinhas com canetaPoucos sabem, mas cruzadinhas podem ser uma das atividades mais extenuantes e radicais que um ser humano pode se submeter. Basta remover o lápis, jogar a borracha fora e puxar uma caneta da gaveta. A excitação será palpável quando você se deparar com o item “Capital da Iuguslávia“, X letras, vertical, e não houver uma forma de verificar o Google no momento.
O que fazer? Deixar em branco? Fechar a revistinha e perguntar a alguém menos burro? ESCREVER QUALQUER COISA COM LÁPIS E DEPOIS APAGAR?
Mas claro que não. Escrever com lápis – se garantindo na segurança que uma borracha oferece – é pra gente frouxa e que está acostumada a sempre sair errando tudo. Fazer cruzadinhas com lápis é não apenas mais um dos milhares de sistema de segurança que nos protegem como bebêzinhos indefesos o tempo todo, mas também um atestado de ignorância.
Passe a caneta (de preferência vermelha, pra que alguém que veja as cruzadinhas pense depois “caralho, esse cara era realmente um aventureiro!“) enquanto repete para si mesmo “ah, foda-se“. Muito em breve você saberá se acertou (o que fará você soltar um longo suspiro de alívio, confie em mim) ou não. E nesse caso, FODEU.
E até descobrir isso, o suor descerá continuamente de sua testa.
3)
Morda o sorvete com os dentes da frente O corpo humano é composto por vários órgãos e membros, e quase todos trabalham incansavelmente para tornar nossa existência mais dolorosa. Canelas, amídalas, apêndices, molares… parece que certas partes do nosso corpo foram colocadas lá apenas causar dor e encheção de saco. Como se não fosse só isso, até mesmo as partes “úteis” causam uma dor impressionante por motivo nenhum.
Os
dentes, por exemplo. Sozinhos eles são apenas mais uma engranagem da complexa
máquina que é o corpo humano. Com eles você morde uma rapadura, segura o
celular enquanto amarra os cadarços, arranca o piercing do mamilo de alguém… Ou
seja, nossos dentes são uma excelente ferramenta.
Mas
experimente combiná-los com sorvete. E não qualquer dente, mas especialmente os
dentes da frente. Há terminações nervosas naquela área que potencialmente
tornam o ato de comer sorvete tão doloroso quanto levar um choque de quarenta
milhões de volts após ter perdido o braço numa mina terrestre que um soldado
iraquiano pôs no seu caminho após estuprar sua mãe com um taco de baseball em
chamas.
Alguns,
entretanto, desenvolveram técnicas inconscientes e conseguem desviar da dor
lacinante que vem após morder um gélido picolé com os incisivos. Alguns não. A
que grupo você pertence?
Dê uma
dentada naquele Frutilli e descubra, seu medroso!
4) Vá
ao banheiro de olhos fechados
Só aquele que já passou pela situação de ter estar trancado num banheiro em falta de papel higiênico sabe o quanto isso é desesperador. Acho que a única coisa pior que isso seria estar trancado num banheiro sem papel higiênico num prédio em chamas, minutos após ter sido demitido e não saber como pagará a prestação do carro no mês que vem. Mas como a maioria de vocês não tem carros, pelo menos dessa vocês escaparam.
Só aquele que já passou pela situação de ter estar trancado num banheiro em falta de papel higiênico sabe o quanto isso é desesperador. Acho que a única coisa pior que isso seria estar trancado num banheiro sem papel higiênico num prédio em chamas, minutos após ter sido demitido e não saber como pagará a prestação do carro no mês que vem. Mas como a maioria de vocês não tem carros, pelo menos dessa vocês escaparam.
Claro
que ninguém quer se ver numa situação como essa. Por isso é lugar comum
verificar – antes mesmo de arriar as calças – se há um volume satisfatório de
papel higiênico naquele buraquinho da parede, justamente pra evitar a
desagradável surpresa de estender o braço em direção ao rolo e sentir apenas o
papelão.
E mais
uma vez as conveniências e medos da nossa sociedade contemporânea estragam o
que poderia ser uma aventura de proporções inimagináveis.
Os riscos nessa atividade são maiores que qualquer outro. Uma
coisa é despencar de um avião a cinco mil metros de altura, cair de cabeça e
ter uma morte instantânea e indolor. Outra bem diferente é despejar a feijoada
de ontem na privada de um conhecido durante uma festa, dar de cara com a falta
de papel higiênico e ter que contemplar a possibilidade do uso da cueca para o
fim higiênico. Já viram o filme Saw, em que os malucos
têm a opção de cortar os próprios pés para escapar do assassino? A solução está
lá, na sua frente, mas você simplesmente não consegue tomar a decisão. E além
disso, o tempo vai passando, lentamente mas inexoravelmente, e em breve
perguntarão por que você ainda está no banheiro.
O que eu estou querendo dizer aqui é que verificar a existência
do papel antes de liberar o esfíncter é coisa de gente FROUXA.
Feche os olhos, feche a porta (e o nariz, dependendo do que você comeu ontem),
e vá na fé.
…
E é isso. Adotem essas simples atividades radicais e injetem alguma emoção em suas vidinhas hermeticamente fechadas e protegidas 24 horas por dia, seus molengas!
Hm, mó
vontade de fazer cruzadinhas comendo pipoca agora. Cadê minha BIC?
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Chorei ahahahahahahahahahahaha Daora Rafa! Parabéns pelo texto! =DD
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